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quinta-feira, 7 de novembro de 2013


Nossa visita ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea faz parte do fio condutor 2013 do Núcleo de Arte Grande Otelo, “Rio Conexão Mundo”, e do tema da oficina de Arte Contemporânea, “POP LIXO! SAGRADA LOUCURA, PELAS RUAS DO RIO”, sobre a vida de Arthur Bispo do Rosário, visando um aprofundamento no conhecimento da arte contemporânea. Buscando ampliar não só o repertório estético dos nossos alunos, mas também protagonistas no processo cultural, levando-os ao aprofundamento no conhecimento da arte.


Tivemos a oportunidade de visitar o Complexo Cultural Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, localizado em Jacarepaguá.


Fomos recebidos calorosamente pela gerente do Setor Educativo do Museu, Bianca Bernardo, e pelo coordenador de produção, Jocelino Pessoa.


Bianca falou que o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea começou a ser construído na década de 1980 e recebeu esse nome posteriormente, em homenagem ao grande artista Arthur Bispo do Rosário, que viveu 50 anos na Instituição.

O Museu localiza-se nas dependências do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, antiga Colônia Juliano Moreira, instituição criada na primeira metade do século XX destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcóolatras e desviantes das mais diversas espécies), mas hoje serve como residência para centenas de pessoas. Leva o nome do Dr. Juliano Moreira.Saiba mais...


Estão sob os cuidados do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea as 806 obras criadas por Arthur Bispo do Rosário durante sua vida.


Além de realizar exposições, a instituição mantém uma Escola Livre de Artes Visuais que oferece oficinas culturais gratuitamente a estudantes, a usuários do serviço de saúde mental e à comunidade em geral.


Segundo Bianca, é o único museu de arte contemporânea que realiza suas exposições nas dependências de um hospital psiquiátrico.


A exposição “Sem Fronteiras” ocupa a primeira galeria, onde antes funcionava o refeitório do hospício, e traz obras de artistas convidados como objetos, fotografias, vídeo/instalação, é claro, algumas obras do artista sergipano Bispo do Rosário. “Todas as exposições partem da obra de Arthur Bispo do Rosário.
Não tem que ser um museu com uma exposição permanente do Bispo. Tem que ter o pensamento permanente dele”, afirma o curador Wilson Lazaro.


Antes da entrada, lembramos de algumas regras essenciais para o sucesso da visita, entre elas:
● Não tocar nas obras expostas! As mãos, mesmo depois de lavadas, contêm gordura e outras substâncias capazes de danificar as peças.
● Manter a distância solicitada, para evitar que, mesmo sem querer, o visitante esbarre ou mesmo danifique alguma obra.
● Não correr; muitas vezes se perde o equilíbrio e aumenta o risco de acidentes a nós mesmos, aos outros visitantes, ou às peças do museu.
● Conversar, só se for baixinho. Por mais prazeroso que seja conversar, é importante que tudo isso aconteça em voz baixa, para não atrapalhar a mediação e as outras pessoas.

 
 

Logo na entrada da galeria, podemos apreciar várias obras do Bispo do Rosário.

 
 

Entre elas, a “vitrine-fichário”, apresentada pela primeira vez em conjunto: um mosaico em azul de nomes, cargos, situações do cotidiano, pessoas que passaram pela vida de Bispo ou que ele conheceu em suas leituras de exemplares da extinta revista O Cruzeiro. Segundo Bispo, catalogar tais nomes era uma tarefa necessária para que essas pessoas fossem salvas no dia do Juízo Final.
Salvação possível, já que esses indivíduos tinham visto a cor de sua aura e reconhecido sua importância (Wilsom Lázaro). Além de conhecermos algumas obras de Bispo, conhecemos também obras de outros artistas, entre eles; Adrianna Eu, Laila Demashqieh, Miroslaw Balkan, Armando Queiroz. Ao descer a rampa fomos convidados a apreciar a obra de Adrianna Eu, “O Coração Puro”.


Trata-se de uma vitrine composta por corações feitos somente de linha vermelha, construídos de forma artesanal, que juntos se entrelaçam; pudemos ver em fotos coloridas, como é todo o processo, até chegar à construção final. Saiba mais...


Nossos alunos se emocionaram com o vermelho vibrante e suas nuanças. Em seguida interagiram com a instalação “Labirinto Sensorial”, do artista polonês Miroslaw Balkan, propondo um percurso sensorial dentro de corredores de arame, compostos por exaustores em movimentos presos nas paredes de arame.

 
 
Registro do encontro na obra de Miroslaw Balkan



A ideia é maravilhosa! Cada integrante pode experimentar as sensações da dinâmica proposta pelo artista, dentro do labirinto ” “Com os olhos fechados, entraram para sentir o vento produzido por vários exaustores existentes na estrutura da obra.” Eles curtiram de montão! “A Arte Sensorial é uma área das artes contemporâneas onde o artista acredita que a obra só pode estar completa quando o convidado interage com ela; a ideia é que o público seja participativo”.

 

Também puderam contemplar a instalação de Laila Demashqieh, que apresenta um cortinado composto de xilogravuras, hasteadas por fios de barbantes coloridos, dando uma ambiência nordestina, buscando resgatar lembranças culturais da infância de Bispo lá em Jarapatuba/Sergipe, sua terra natal. Em seguida, pausa para assistir um vídeo/arte:



O vídeo mostrava o trabalho de Armando Queiroz, chamado “Ymá Nhandehetama”, que significa “Antigamente fomos muitos”. O vídeo foi construído através de um diálogo que objetivava expressar a condição indígena, fruto de um longo processo de violência e dissolução física e espiritual, imposto às diversas etnias indígenas das Américas.
 
 
 

Nossa mediadora, descreveu o espaço onde estávamos, disse que aquele local era o refeitório para os internos do antigo MANICÔMIO. Disse que a palavra “manicômio” deriva do grego: mania, que significa loucura, e komêin, que quer dizer curar. Portanto, a partir do seu significado, infere-se que o manicômio seja um instituto destinado ao tratamento das pessoas com transtornos mentais.
 
Disse que o termo se refere aos dois tipos de hospital psiquiátrico: a instituição destinada à “cura” de tais pessoas, e que popularmente é chamado de hospício, e um hospital especializado no tratamento de doenças mentais e/ou de “transtornos mentais”, e nos fez refletir sobre os que são discriminados em nossa sociedade, só porque são diferentes! Aproveitou para perguntar se alguém podia falar um pouco sobre Arthur Bispo do Rosário. Nossa pequena Anna Luiza falou que Arthur era uma pessoa que tinha um comportamento diferente, e por isso foi internado ali.
 
Bispo do Rosário é considerado pela crítica um dos principais artistas brasileiros do século XX, saudado aqui no Brasil e internacionalmente!


Acrescentou Bianca que a história de Bispo começou na noite de 22 de dezembro de 1938, quando tinha 29 anos, no quintal da casa onde morava em Botafogo, zona sul do Rio. Bispo viu Jesus Cristo descer à Terra rodeado por uma corte de anjos azuis; vozes lhe teriam dito para reconstituir o mundo. Acompanhado desses anjos, peregrinou pelas várias igrejas enfileiradas na rua Primeiro de Março e terminou no Mosteiro de São Bento, onde anunciou a uma confraria de padres que era um enviado, incumbido de “julgar os vivos e os mortos”, e com tal visão, ele proclama-se Jesus Cristo.
 
Levado pela polícia Civil para o manicômio da Praia Vermelha e internado no Hospital Nacional dos Alienados, onde foi recebido como indigente e diagnosticado como esquizofrênico-paranóico e logo em seguida, no inicio de 1939, veio transferido para a Colônia Juliano Moreira, sendo alojado no pavilhão reservado aos internos mais agitados. De 1939 e até 1963, alternou momentos no hospício e também saindo para exercer serviços domésticos em na residência dos Leone.
 
Perto de seus 50 anos de idades, Bispo se fixou, para sempre aqui, na Colônia Juliano Moreira.
Muitas das suas obras nasceram das coisas que recolhia no “pátio” da Colônia. Na sua maioria, sucatas de toda espécie e em inúmeras combinações: seja a partir da natureza do material, e do efeito das cores como, por exemplo, sua vitrine: Cestas e Canecas Coloridas, assemblage de várias canecas; seja a partir da função dos objetos como em Sapateira Masculina. Algumas obras, como Talcos e Super-Cid, Botas, Congas e Havaianas, etc. Criando quase mil obras com objetos do cotidiano.
 
O ano de 1980 marca o fim do anonimato de Bispo do Rosário. Ele foi apresentado ao Brasil pelo programa Fantástico, da TV Globo. Personalidades, artistas, muita gente passou a vir à Colônia na intenção de conhecer sua obra. O crítico Federico Morais, então coordenador de artes do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), legitimou-o como artista genuíno e sua obra como vanguardista.
 
Em 1982, expôs, pela primeira vez, parte de sua obra em uma coletiva: “Margem da Vida”, no MAM.
Bispo viria a falecer no ano de 1989, e logo depois toda a sua produção seria montada em diversos museus de arte contemporânea. Desde então, o artista tem inspirado filmes, livros e ainda peças teatrais.



 
Após várias exposições pelo país, a obra de Bispo também representou o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, na Itália, em 1995, e em 2012 na 30ª Bienal de São Paulo, e mais recentemente Bispo do Rosário ganhou uma grande mostra em Londres, que foi a exposição “Azul dos Ventos”, com 83 obras apresentadas no Victoria & Albert Museum, e ultimamente no Museu da Cidade, em Lisboa.




Sua genialidade se expressa na forma como trabalha os elementos, os novos suportes utilizados, a configuração contemporânea de sua arte, a harmonia do conjunto das peças.



No segundo momento, Bianca deixou o grupo livre para conhecer a outra mostra, “Ressuscita-me”, exibida pela primeira vez com os trabalhos de pacientes da Casa de Saúde Dr. Eiras/Paracambi-RJ, uma instituição manicomial que sofreu um processo de intervenção do Estado em 2000 e culminou com seu encerramento em 2012. O Museu Bispo do Rosário detém a guarda de 470 obras de artistas que foram internos da instituição.




A mostra, que evidencia a sensibilidade dos criadores, tem participação de artistas convidados: Heleno Bernardi, Graciela Sacco, Artur Barrio, Jhafis Quintero, Carmen Calvo e Arlindo Oliveira.


Obra “Enquanto falo, as horas passam”, Heleno Bernardi
Anunciamos uma surpresa! Aproveitamos para celebrar os aniversariantes do mês do NÚCLEO DE ARTE GRANDE OTELO. Os professores presentes, convidaram os alunos Danilo Ramos e Raissa, seus pais e todos os visitantes para cantar com muita emoção o parabéns e apagar as velinhas; ao confraternizar o grupo pôde saborear um delicioso bolo levado pela família de Raissa Matheus.


Durante a despedida, nosso Núcleo de Arte Grande Otelo recebeu das mãos da gerente do Educativo o livro Arthur Bispo do Rosário – Século XX, lançado durante a 30ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, tiragem especial com edição revista e ampliada, organizado por Wilson Lázaro, curador do Museu.


Certamente o dia 10 de julho será bem lembrado pelos alunos, responsáveis e professores do Núcleo de Arte Grande Otelo.


Foi muito enriquecedora a visita guiada. Bianca dialogou com o grupo durante todo o percurso, comentando, trocando ideias e propondo sensações com a obra. Foi fundamental a sua mediação entre as obras expostas com nossos estudantes, ajudando na interpretação, promovendo o desenvolvimento, a construção da identidade individual e coletiva.



Entre os objetivos propostos para a aula-passeio, destacamos alguns, entre eles; levá-los à apreciação das produções artísticas contemporâneas, uma possível leitura da obra através das técnicas empregadas, como a inventividade do processo de construção, a organização e a conceituação da imagem visual no espaço físico, ampliando sua sensibilidade, compreensão e apreciação da produção artística. Espera-se que o aluno observe, compreenda, reformule, emita opiniões, conceitos e colocações sobre a exposição, e perceba que a arte não deve ter um juízo absoluto, que nossas críticas estejam sujeitas a novas reformulações. Que os juízos estéticos podem e devem ser reavaliados de acordo com o passar dos tempos, que “gostos e valores” podem mudar, só assim, nossa atividade como observadores, apreciadores e/ou produtores artísticos pode ser ampliada e desenvolvida constantemente. Acreditamos que as sementes preparadas e depositadas em cada um possam germinar, contribuindo para a reverberação daquilo que faz parte da essência humana: a necessidade (da arte) de criar.

Agradecemos com imenso carinho aos que não mediram esforços para que a aula-passeio acontecesse, entre eles: a SME-Carioca; a 6ª Coordenadoria de Educação; a Laíse Pacheco e Márcia Santos (Chefia); às professoras do Núcleo, Carmem Souza e Imaculada Conceição; aos pequenos fotógrafos e cinegrafistas da Oficina de Animação Experimental ministrada pela Professora Imaculada Conceição; aos responsáveis Sueli André Suete e Iracema Medeiros Manso; ao casal Ana Paula Frazão Michaele Matheus e Cláudio Francisco Barbosa Veiga, pela confiança depositada em nossa equipe! Agradecemos também ao Museu Bispo de Rosário Arte Contemporânea, por ter viabilizado o ônibus, à gerência do Setor Educativo do Museu, Bianca Bernardo e Jocelino Pessoa. A todos, o nosso muitíssimo obrigado!

“Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes”. Augusto Cury.

Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

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